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POEMA PARA OS SOBREVIVENTES




Tenho morado em vários lugares do mundo ao mesmo tempo. Às vezes, no meio da tarde tenho encontros simultâneos na Finlândia e na Califórnia. Em Maputo e em Buenos Aires. Entre o anoitecer e a aurora desses lugares.

Tenho morado também em diferentes lugares em mim. Lugares antes inabitados que me desatam para uma nova possibilidade de ser.

Às vezes moro em uma caixinha de músicas e botões coloridos. Repleto de desconhecidos bordando acordes, e tecendo acordos.

Há flores, bichos, risos soltos de crianças.

Há palavras, há olhares, há braços.

Abraços.

Nos mantemos em uma distância segura. Segurando impulsos.

Compartilhamos nossas plantas ao sol, num ato de cultivar afetos.

Afetados pelas notícias do presente ou pelas ausências do futuro.

Buscamos encontros na resistência de permanecermos.

E entre os sons que nos atravessam pelas belas melodias, os toques que desejamos vão além do ritmo.

Por entre a embriaguez do vinho e o entorpecimento da dor, projetamos um futuro não vivido de um carnaval interrompido.

O deleite disso tudo é perceber que para almejar um corpo ou um copo, não é necessário o amanhã.

Pois os afetos seguem sendo vividos agora.

Construiremos nosso próprio carnaval que se perpetuará num registro em aquarela e papel.

Nós já sobrevivemos.


Sabryna Mato Grosso

13.jun.20

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