Porque teia nos coloca no artigo A.
Teia tem algo que me alinha com a outra, sai de mim, transcendo, me distancio e me insere no todo, sem esquecer de mim. Todo = Mulheres. Mulheres que produzem, são escritoras, publicam e querem ser lidas. Por isso, o artigo A em evidência. O "a" na Língua Portuguesa é constantemente suprimido pelas regras gramaticais. Por exemplo, quando têm-se palavras com gêneros distintos, no plural, o masculino predomina, logo Edna, Pedro e Laura são estudiosOs. Aqui, ao contrário, o feminino é a força criadora. O artigo A é enfatizado, como uma espécie de "olha pra mim" pois, cansadas de predomínios, queremos espaço. Assim, somos escritoras e estamos em TeiA.
Sim, em TeiA! Chega de lutar sozinha, uma contra a outra, chega de acreditar que é só na guerra que conseguimos o melhor espaço, mais destaque, ou pior ainda, o melhor homem. Traçamos nossa TeiA não com o desejo de dominar e sim de abrir o nosso lugar, de valorar o que produzimos há muito tempo, mas a história fez questão de abafar. Mas já faz muito tempo que ocupamos todos os espaços.
Nossa forma de estar em TeiA é abrindo o olhar para outras narrativas. Não precisamos continuar tentando nos encaixar na história da humanidade contada por um único viés. Que humanidade é essa? Quais são essas histórias? Quem as escreveu?
Não é de hoje que nos entendemos plurais no mundo. E é pra essa diversidade que abrimos espaços. Por isso seguimos em rede, nessa TeiA ColetivA. Tecendo nossas realidades, inquietações e sabedorias por meio do encontro. Em possibilidades outras, ancestrais, matricêntricas, originárias, coletivAs... que de fato abarque à todes.
E este tecer, esta palavra que sugere o entrelaçamento dos fios em um tear, em uma teia, onde se faz um tecido... Talvez seja isso, estar em teia é ser parte de um desses fios, para construirmos juntas um tecido literário que conte as nossas histórias, que mostre pelas palavras o nosso olhar sobre o mundo. É sobre construir imaginários, afinal, nos proibir a palavra, a escrita, a nossa expressão, é destruir a potência em co-criarmos novas e diferentes realidades para todes, mostrar novas possibilidades de construção de uma sociedade e do mais importante nesse momento, uma nova construção de futuro. Nesta TeiA, o artigo A enfatizado, sendo essa espécie de "olha pra mim", pode querer também dizer "olha através de mim" e é só pela arte que isso se torna possível, e é pela palavra o convite que fazemos nesse momento de verem o mundo por nossos olhos.
Palavras que tantas vezes foram silenciadas, estiveram engasgadas na garganta, sem fôlego para seguir adiante, acompanhadas daquelas vozes internas treinadas para nos diminuir, para que duvidemos de nossas percepções e de nossas potências. Afinal quais são as referências que nos foram apresentadas mesmo? Quantas autoras mulheres você se lembra de ter lido ao longo da sua vida? Por que ao pensarmos em autores é mais natural que uma figura masculina nos venha à mente? Assim como quando imaginamos cientistas, engenheiro(a)s, físico(a)s, pintore (a)s, dentre tantas outras áreas do conhecimento? Não é à toa que Igualdade de Gênero é um dos objetivos propostos pela ONU como um apelo global para o desenvolvimento sustentável. Historicamente nossas palavras foram diminuídas e invisibilizadas. Por isso, estar em Teia faz tanto sentido, seja para nos fortalecermos e redescobrirmos juntas as trajetórias de tantas mulheres silenciadas, seja para tecermos novos rumos nos quais haja registros dos feitos de muitas e muitas mulheres de agora e das que ainda estão por vir.
Por fim, estar em teia é enredar-se. É tecer redes, relações, potencialidades, palavras, ações, histórias e afetos. É criar um novo enredo para si, para outras, para tantas. Mãos unidas, canetas à postos, páginas de livro com cheirinho do novo. Nova ordem. Reescrever e escrever histórias, pessoais e coletivas. É a materialização pulsante dos contos ainda não contados. O balanço necessário que bagunça os cabelos e nos deixa livres. É a tempestade que transforma e a brisa que acolhe. É estarmos juntas, lado a lado, aladas.
(texto escrito de forma coletiva)
Por Leslye Revely, Denise Guilherme, Sabryna Mato Grosso,
Monique Franco, Thais Póvoa e Príscila Galvão.
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