Quantas vezes você já não hesitou ao olhar para um papel em branco? Ou mesmo depois que uma ou duas laudas estavam escritas, quantas foram as vezes em que você diminuiu seu trabalho comparando-o com outros textos ou outras criações? Eu certamente já perdi as contas de quantas vezes isso aconteceu comigo. Um rigor tão exagerado, quase inatingível. As palavras sempre pareciam incompletas, nunca eram suficientes para encontrar a(o)s leitora(e)s. Quando tive a “ousadia” de ingressar no mestrado mesmo sendo mãe de duas crianças, foram inúmeras as vezes às quais pensei em desistir. E quantas mulheres não desistiram no meio desse caminho?
Faço essas perguntas a você, porque passei por elas em tantos momentos e sempre imaginei que essas sensações eram apenas minhas. Aos poucos, fui notando que muitas amigas compartilhavam de inquietações semelhantes. Também fui percebendo que meus amigos homens quase nunca passavam por algo parecido. Seria uma coincidência? Você algum dia já parou para pensar sobre isso? Por que muitas de nós sentimos um tremor na barriga ao tentarmos nos colocar no mundo, assim como qualquer homem se coloca, naturalmente? Agora, se lembra quantas vezes você foi ignorada ou um homem tentou te “ensinar” algo ou quantas foram as vezes em que você foi interrompida e desacreditada por algum deles?
Quando passei a me dar conta disso, notei que muitas amigas deixavam de valorizar seus percursos de vida, suas trajetórias, seus trabalhos, suas escritas, suas criações e que se isso acontecia entre todas de uma maneira muito parecida, havia algo errado ali. A real é que não somos criadas para sermos "brilhantes", nós aprendemos a servir os homens desde muito cedo, aprendemos que somos “frágeis” e de certa forma, menores. Historicamente, a trajetória das mulheres é de lutas imensas para conquistar equidade e se esse fosse um assunto realmente tão irrelevante como muitos amigos homens insistem em nos “lembrar”, porque seria essa uma batalha tão inatingível?
Afinal, quantas mulheres das quais você conhece ocupam cargos de liderança? Proporcionalmente, quantas mulheres ganham igual ou mais do que seus amigos homens? Ao seu redor está tudo equiparado? E quantos livros de mulheres você tem na sua estante, mesmo? Já parou para se perguntar do porquê esse número é bem inferior aos de autores homens? Será essa outra coincidência? Será que nós mulheres realmente temos menos aptidões literárias ou menos lampejos criativos? Ironias à parte, se nunca parou para refletir sobre isso, lhe convido à essa reflexão e junto à ela, que você possa perceber que sua insegurança em colocar as palavras no papel e mostrá-las ao mundo tem origens muito maiores do que você possa imaginar. É uma construção histórica. Por isso, que tal começar a valorizar suas criações neste instante? Vamos?
Thaís Póvoa
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